Certa vez escrevi sobre a movimentação de caminhantes e atletas no calçadão da Ilha dos Araújos, onde qualquer um pode observar que, mesmo que estejam em grupo, os praticantes transformam aquela orla num verdadeiro laboratório de psicologia, afinal, pode se ouvir conversas sobre variados assuntos, ainda que seja durante o rápido ar de um pelo outro: amores feitos, amores desfeitos, romances, conflitos familiares, inventários, divórcios, casamentos, problemas com empregados, com colegas de trabalho, esportes, sucesso na vida profissional, concursos, negócios, viagens, enfim, tudo aquilo que move a dinâmica humana. Ah! Quase fica de fora, mas falar da política a nível nacional virou prática inquestionável, parece que o país está mais politizado. 441v6k
Mas Governador Valadares tem outros laboratórios existenciais, as saunas dos clubes recreativos. Ali também se fala de tudo, principalmente de futebol, algumas vezes em tom de brincadeira comentários sobre a vida amorosa dos outros, com o merecido respeito. Dizem que mulher fala muito, mas os “cuecas” também falam bastante, e como.
Desnecessário dizer, mas sauna é relaxante, e boa para pele, principalmente quando é ampla e de forno bem ajustado, com duchas, jatos de pressão de água, piscina de hidromassagem e frequentada por conhecidos. Talvez por ser um espaço de lazer onde se pode curar até “stress”, a galera extravasa nos comentários e senta a pua.
Outro dia entre o calor e a fumaça do forno, tinha dois frequentadores nostálgicos falando que Governador Valadares não tem mais bons bares como nos tempos do Dom Camilo e do Caneco, como se quisessem ar a ideia de que hoje, a cidade é carente de bons bares e pizzarias. Nos parece que a paixão pelos bons momentos do ado, impede a visão do mundo atual, até porque GV cresceu muito e mudou, prefiro pensar que para melhor, é claro.
Outros dois personagens reclamavam de uma cidade do litoral no extremo sul da Bahia, entre as primeiras, localizada já quase na divisa com o estado do Espírito Santo. Diziam eles que no verão aquele balneário não teve um caminhão de som, tipo um trio elétrico que animava os veranistas na cidade. De acordo com eles, o prefeito se desfez da parafernália porque um promotor de Justiça recebeu muitas reclamações dos nativos, incomodados com barulho. No entanto, para desassossego de outros, permaneceram “al mare” (em italiano “à beira-mar”) as discotecas ambulantes dos carros dos “playboys”, daqueles de furar os tímpanos, que impedem qualquer um de conversar.
Outro frequentador que se identificou como funcionário público estadual reclamava da falta de isonomia de seu salário em relação à mesma categoria na área federal. Já um jovem de uns vinte e poucos anos contava todo compenetrado que a turbina de seu Jet-ski estava com defeito, por isso sua máquina estava patinando nas barrentas águas do rio Doce. Surgem conversas de todos os naipes.
Nos dias posteriores aos grandes clássicos do futebol, predomina com muita sujeira o assunto da bola. Como não poderia deixar de fora, fala-se muito também de política, uns contra, outros a favor do “sistema”, mas sempre com um norte em comum: é preciso moralizar a coisa.
(*) Crisolino Filho, é escritor, advogado e bibliotecário | E-mail: [email protected] | Whats App: (33) 9.88071877 | Escreve nesse espaço quinzenalmente
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