por Luiza Vieira (*) 1062d
O “jogo do tigrinho” virou uma verdadeira febre. Basta abrir o celular para se deparar com vídeos curtos, envolventes, onde pessoas comemoram ganhos aparentemente fáceis com um simples clique. A promessa é sedutora: dinheiro rápido, sem esforço. Mas o que esses vídeos não mostram é o lado obscuro dessa história, o custo emocional, financeiro e psicológico que muitas vezes vem junto com a diversão.
O que começa como atempo ou curiosidade pode, em pouco tempo, transformar-se em um vício silencioso. Jogos como o “tigrinho” são meticulosamente projetados para capturar a atenção e manter o jogador envolvido. Cores vibrantes, efeitos sonoros chamativos e recompensas imprevisíveis compõem a fórmula que ativa o sistema de recompensa do cérebro — os mesmos mecanismos utilizados por cassinos. Cada pequena vitória libera dopamina, o neurotransmissor associado ao prazer, fazendo o cérebro ansiar pela próxima jogada. A sensação é viciante. A armadilha, invisível.
À medida que o envolvimento cresce, os sinais de alerta começam a surgir. O tempo parece escapar, o dinheiro some, e a esperança de recuperar o que foi perdido se torna um combustível para continuar apostando. É um ciclo desgastante, difícil de romper. Muitos jogadores não percebem o quanto estão sendo afetados até que os impactos se tornam inevitáveis: ansiedade, insônia, irritabilidade, depressão e, em casos extremos, pensamentos suicidas. O sofrimento é profundo e muitas vezes calado.
Esse problema é agravado pela maneira como esses jogos são promovidos. Influenciadores, celebridades e até perfis anônimos nas redes sociais exibem ganhos falsos ou exagerados, criando a ilusão de uma oportunidade ível a todos. O risco se disfarça de sucesso. E quem assiste, seduzido por promessas irreais, acaba mergulhando de cabeça sem perceber que, estatisticamente, quem mais joga é justamente quem mais perde.
Se você ou alguém próximo sente que perdeu o controle, saiba que não é fraqueza, é um sinal de que algo precisa de atenção. Reconhecer o problema não é o fim da linha, mas o começo de uma virada possível. Procurar ajuda psicológica é mais do que necessário: é um ato de coragem. Existem profissionais preparados, grupos de apoio e recursos especializados que oferecem acolhimento e estratégias reais para reconstruir o equilíbrio.
Você não precisa enfrentar isso sozinho. Existe vida além da tela, além do clique, além da promessa de um ganho ilusório. E ela pode ser muito mais valiosa, estável e plena do que qualquer roleta digital. O primeiro o pode parecer difícil, mas ele é também o mais libertador.
(*) Psicóloga, pós graduanda em neuropsicologia pela Unifesp | CRP 04/62350
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