O Carnaval 2025 trouxe duas histórias inusitadas que viralizaram nas redes sociais e deram o que falar nos condomínios brasileiros. De um lado, uma quadrilha de ladrões que se hospedou em um prédio via aplicativo para cometer crimes e foi presa por policiais fantasiados de Power Rangers. Do outro, um protesto canino cheio de criatividade contra uma decisão polêmica do síndico. Ambas as situações nos ensinam lições valiosas sobre convivência e segurança nos espaços compartilhados. 5828w
O Bloco dos “Cachorros Fora da Lei” 663n
Em um condomínio de Campo Grande (MS), o novo síndico resolveu resgatar uma regra do regimento interno que proíbe os eios de animais nas áreas comuns. A decisão, tomada sem diálogo com os moradores, gerou indignação entre os tutores de pets, que estavam acostumados a levar seus cães para eios dentro do condomínio por segurança – já que o parque ao lado era alvo frequente de assaltos.
A resposta veio em forma de protesto bem-humorado: o bloco improvisado “Latido dos Excluídos”. Cachorros fantasiados de meliantes desfilavam pelo condomínio ao lado de seus donos, que carregavam cartazes irônicos e até montaram uma “galeria dos procurados” com fotos dos pets e suas supostas infrações. A ação gerou grande repercussão, mostrando que bom humor também pode ser uma ferramenta poderosa para reivindicações legítimas.
Diante da pressão, o síndico se reuniu com representantes dos moradores, mas alegou que o abaixo-assinado de 2021, que flexibilizava os eios, não tinha validade legal. O ime foi encaminhado para revisão do regimento interno, mas ficou claro que mudanças desse tipo exigem aprovação em assembleia e não podem ser feitas unilateralmente pelo síndico ou uma comissão. A principal lição? Gestão condominial exige diálogo, respeito aos costumes dos moradores e, acima de tudo, transparência.


Os turistas do crime e a polícia de fantasia 592f5f
Enquanto isso, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, um condomínio residencial foi palco de um golpe cinematográfico. Um grupo criminoso alugou um apartamento via aplicativo de hospedagem para usar o local como base para furtar foliões nos blocos de Carnaval da região.
O plano parecia perfeito, mas os bandidos não contavam com a sagacidade da polícia, que já estava de olho nos movimentos suspeitos. Em uma ação digna de filme, os agentes se disfarçaram de Power Rangers e realizaram a prisão dos criminosos. A cena da captura foi registrada e compartilhada pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, tornando-se um dos vídeos mais comentados do feriado.
O episódio reacendeu o debate sobre a liberação de aluguéis por aplicativos em condomínios residenciais. Anos antes, o síndico havia tentado proibir essa prática por questões de segurança, mas a proposta foi rejeitada em assembleia, já que muitos proprietários compraram imóveis na região justamente para investir nesse tipo de locação. Agora, após o susto, os moradores querem medidas mais rígidas, incluindo a responsabilização dos anfitriões pelos prejuízos causados por seus hóspedes.
O que podemos aprender com essas histórias? h724
Apesar de contextos distintos, os dois episódios mostram como decisões coletivas dentro de condomínios precisam ser bem pensadas e embasadas em diálogo e responsabilidade. No caso dos cães “meliantes”, o erro foi a falta de comunicação do síndico com a comunidade antes de impor uma regra impopular. No caso dos criminosos “turistas”, a flexibilização exagerada das locações trouxe riscos reais à segurança dos moradores.
Seja para garantir o direito de um pet ear ou para evitar que um prédio se torne ponto de apoio para quadrilhas, uma coisa é certa: decisões condominiais não podem ser tomadas sem consulta, planejamento e, sempre que possível, uma boa dose de bom senso. Afinal, se até os cães protestam com criatividade e os policiais prendem bandidos fantasiados, nada impede que a istração de um condomínio seja feita com equilíbrio e inteligência.
(*) Cleuzany Lott é especialista em direito condominial, Presidente da Comissão de Direito Condominial e membro da Comissão Direito dos Animais da 43ª Subseção da OAB-MG em Governador Valadares, Diretora Nacional de Comunicação da Associação Nacional da Advocacia Condominial (ANACON), Síndica, Jornalista, apresentadora do podcast Condominicando e cursando do MBA istração de Condomínios e Síndicos com Ênfase em Direito Condominial (Conasi).
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