Caros leitores, Governador Valadares está ficando grisalha, e ainda falta política pública capaz de esconder os fios brancos que surgem na paisagem urbana e no rosto da nossa população. A cidade que sempre se orgulhou da força jovem que migrava para os Estados Unidos agora precisa encarar um desafio silencioso: estamos envelhecendo — e estamos despreparados para isso. 6b4a4
Segundo o Censo 2022 do IBGE, aproximadamente 12,68% da população de Governador Valadares tem 65 anos ou mais, indicando um processo de envelhecimento populacional. Projeções nacionais apontam que a proporção de idosos deverá aumentar significativamente nas próximas décadas, refletindo uma tendência observada em todo o país. O que a cidade está fazendo, de forma concreta, para se adaptar a essa nova realidade?
Quem caminha pelas ruas de Valadares percebe que as calçadas são armadilhas diárias. O transporte público é um teste de resistência até para os mais jovens. As unidades básicas de saúde vivem superlotadas. Quase não temos opções de lazer ou inclusão digital para a terceira idade. Envelhecer não pode ser sentença de isolamento, nem sinônimo de descaso. Mas, na prática, nossos idosos continuam invisíveis. Falta prioridade. Falta vontade política.
A cidade que envelhece precisa se reinventar — e rápido. Governador Valadares precisa de um Plano Municipal de Envelhecimento Ativo. Um plano com metas, orçamento e cronograma, que trate da mobilidade, da saúde preventiva, da habitação adaptada, da formação de cuidadores, da inclusão digital, e da promoção de atividades culturais e esportivas específicas para esse público. Não é luxo, é necessidade.
Se continuarmos tratando o envelhecimento apenas como um problema de saúde, e não como uma pauta transversal de planejamento urbano e social, a conta vai chegar — e será cara. A cidade que não cuida dos seus idosos hoje estará, em breve, diante de um colapso silencioso: aumento de internações, solidão, depressão, violência doméstica e um sistema de saúde sufocado. Isso não é alarmismo.
Há ainda um tabu cultural a ser rompido. Valorizamos a juventude como sinônimo de produtividade, mas ignoramos que os idosos têm experiência, tempo, história e desejo de participação ativa. A cidade precisa deles — e eles precisam ser ouvidos, representados e respeitados.
Não há inovação urbana sem inclusão etária. Cidades inteligentes são aquelas que planejam com base na realidade demográfica, e não em slogans publicitários. Valadares precisa se perguntar: que tipo de cidade desejo ser? Uma que envelhece com dignidade ou uma que abandona seus próprios cidadãos à margem da vida?
O futuro já começou. E ele tem rugas, cabelos brancos e muita coisa a ensinar — se tivermos a coragem de escutar.
(*) Thales Aguiar — Jornalista e escritor | Especialista em Ciência Política
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