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FOTO: Reprodução/Instagram

O ano era 1992. Eu tinha acabado de retornar das férias e naquele momento, trabalhava no período vespertino e comecinho da noite na redação do DIÁRIO DO RIO DOCE. Fiquei um pouco assustado com a recepção de alguns colegas, mas em seguida, fui conversar com o nosso editor, o saudoso Antor Santana, figura histórica do jornalismo valadarense. E foi através dele que fiquei sabendo, naquela quarta-feira, que no dia seguinte embarcaria para Vitória, capital do Espírito Santo, num tour de fim de semana 100% patrocinado pela Vale do Rio Doce que celebrava o seu cinquentenário. 3a342f

Como todos os repórteres queriam “representar” o jornal ao lado de outros colegas da imprensa, realizou-se um sorteio e o “sortudo” foi justamente aquele que não estava presente (no caso, este escriba). Daí, a indignação tomou conta de uns e outros. Era como se eu voltasse das férias e já no dia seguinte, recebesse mais quatro dias “bônus”. É claro que não hesitei. Pontualmente às 7h da manhã da quinta-feira, embarquei naquele imponente vagão leito da Ferrovia Vitória-Minas com destino à capital capixaba.

Ficamos no Camburi Praia Hotel com todas as mordomias possíveis e ainda nos levaram a diversos pontos turísticos do Espírito Santo, como o Porto de Tubarão, o Convento da Penha, a Fábrica da Garoto (onde podemos sentir o cheirinho de chocolate a uma ou duas quadras do local) e, claro, toda a infraestrutura da Vale do Rio Doce. Em particular, fui ciceroneado pela então estudante de jornalismo Giuliane Calvi, mineirinha de Conselheiro Lafaiete e à época, estagiária na Vale (que depois se consagrou na Globo local e atualmente trabalha no Rio de Janeiro). E foi ali, na usina de pelotização, no “coração” da Vale, que eu tive ideia da dimensão desta empresa que hoje já a dos 80 anos.

Fomos recebidos pela alta cúpula da empresa com pompa e circunstância. Curiosamente, Eliezer Batista (mais conhecido hoje em dia por ser o pai do empresário valadarense Eike Batista), figura histórica da Vale (falecido em 2018) tinha acabado de deixar a empresa. E foi durante a entrevista coletiva com os es da Vale que soubemos dos planos estratégicos para os próximos 50 anos. Mas a cena mais bizarra ocorreu ao final da coletiva. O assessor de imprensa da Vale se colocou à disposição para eventuais dúvidas e um colega, repórter fotográfico, fez a seguinte pergunta:

– Pra que serve esta sala de reuniões?

Alguns risos tímidos tomaram conta do local. O assessor o chamou de lado e tentou explicar o óbvio. Foi a tal da vergonha alheia. Cinco anos depois, a Vale foi privatizada. Chorei compulsivamente. Era como se alguém estivesse pegando o brinquedo favorito de uma criança pobre e dando para uma criança rica. O resto é história. Mariana e Brumadinho que o digam.

NÃO É PRECISO SER ATEU PARA GOSTAR DE PEPE MUJICA 2f5k5q

Sou cristão, com raízes judaicas e aprendi desde cedo a valorizar e “replicar” os ensinamentos do Cristo. Na adolescência, conheci o ateísmo e pensei: “tem que ter muita fé para crer num deus chamado tempo”. Com o ar dos anos, descobri a diversidade da fé. Tem gente que crê em tudo. Em animais, plantas, em outros deuses e até profetas não bíblicos que contrariam o Sola Scriptura de Lutero.

Perto de completar 30 anos, tive a oportunidade de estudar teologia de forma aprofundada. Durante cinco invernos e muitos meses de leituras e estudo sistemático da Bíblia e dezenas de livros sobre hermenêutica, apologética e homilética, finalizei o curso com uma efusiva conclusão: D’us existe e revela Seu caráter ao se preocupar com todos os seres humanos (mesmo os que não creem nEle). Foi mais ou menos nesse período que ouvi falar pela primeira vez de um certo Jose Alberto Mujica Cordano. Ou simplesmente Pepe Mujica.

As convicções que o ensino teológico me trouxe despertaram em mim algo que eu não itia até então: qualquer pessoa pode estar no Paraíso independentemente de suas crenças. Quer dizer que mesmo um ateu como Mujica pode herdar o Reino dos Céus? Sim, porque o Evangelho que algumas denominações e correntes políticas observam, pouco tem a ver com a essência e com os princípios de Jesus Cristo. E é justamente neste ponto que Pepe Mujica “se credencia” à Eternidade.

A vida e a obra do ex-presidente uruguaio por si só, fala mais alto que o mais eloquente dos discursos proferidos em plenário pelos atuais parlamentares no Uruguai, no Brasil ou em qualquer canto do planeta. Você pode até não concordar com ele em algumas questões polêmicas, arduamente defendidas pelos progressistas. Contudo, em sã consciência, ninguém ousa falar do ser humano “Mujica”. E é assim que eu me despeço de um dos maiores exemplos que tive.

Pepe renunciou a todo esplendor, toda a suntuosidade do cargo durante sua existência. Atravessou gerações defendendo o que é certo, o que é íntegro, lutou pela democracia como poucos e morreu com uma frase emblemática: “Deus não existe. Mas espero estar errado.” Mesmo sem conhecê-lO, Mujica tinha em seu peito, valores e ensinamentos cristãos, como a igualdade, a justiça, a honestidade, a humildade e o desprendimento das coisas materiais.

-Descanse em paz, Pepe!


(*) EDSON CALIXTO JUNIOR é escritor, teólogo e jornalista. Trabalhou no Diário do Rio Doce, Rádio Globo/CBN, Rede Novo Tempo de Comunicação, foi assessor de imprensa na Assembleia Legislativa do Paraná (2003 – 2010). Atualmente é servidor público federal.

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