Estamos sendo bombardeados. 4g476d
Abra o Instagram, role o TikTok, leia os grupos de WhatsApp. Em poucos minutos, já aparecem dez vídeos listando sintomas misteriosos, sugerindo deficiências de vitaminas que você nunca soube que existiam, ou associando qualquer desconforto físico ou mental a uma doença com nome difícil — sempre com uma solução fácil: um suplemento “milagroso”, uma consulta “reveladora”, ou um combo detox “infalível”.
O problema? Grande parte dessas informações vem de leigos. E o restante, de “especialistas” com diploma, mas com um único objetivo: vender. Não saúde. Mas medo.
Medo de estar doente e não saber. Medo de não estar “otimizado”. Medo de viver normalmente.
É tanta martelada na nossa cabeça que a gente começa a se questionar: será que estou mesmo bem? Será que esse cansaço de segunda-feira é uma falência mitocondrial? Será que minha unha quebrando é sinal de colapso nutricional? E, claro, tudo tem cura… desde que você compre o que estão vendendo.
Hoje em dia, parecer saudável nas redes sociais chega a ser ofensivo. Imagine postar algo assim: “Tenho 55 anos, me exército cinco vezes por semana, não tomo nenhuma medicação, vou ao médico uma vez por ano para os exames de rotina.”
Parece provocação, não é? i4a6f
Pior: a gente sente até vergonha de falar isso. Como se estar bem fosse um privilégio ou, pior ainda, uma mentira. A narrativa dominante é a da dor, da falta, do desequilíbrio, da síndrome recém-batizada.
Mas aqui vai um recado importante, quase um grito:
VOCÊ TEM DIREITO DE SER SAUDÁVEL! 736ex
Tem direito de não ter nada.
Tem direito de se sentir bem.
Tem direito de não tomar remédio nenhum.
Tem direito de buscar saúde, e não diagnósticos.
A sua vida não precisa ser um catálogo de sintomas. Nem um relatório laboratorial ambulante. Não aceite que carimbem sua testa com um diagnóstico que nem é considerado doença oficialmente, ou que você claramente não tem — só porque “todo mundo tem”.
Ser saudável é normal.
Sentir-se bem é desejável.
E querer manter isso não é arrogância, é sabedoria.
Sim, precisamos falar de doenças, sim, precisamos acolher quem está sofrendo. Mas também precisamos normalizar o bem-estar. Precisamos falar da saúde com o mesmo entusiasmo com que falamos das doenças da moda. E, mais do que isso, precisamos defendê-la.
Porque no meio de tanto barulho, de tanto apelo comercial disfarçado de conselho, o verdadeiro autocuidado pode parecer invisível. Mas ele está ali: na boa alimentação, no sono de qualidade, na caminhada do fim da tarde, nas risadas, no check-up de rotina e na paz de espírito de saber que você não precisa ter um diagnóstico para ser ouvido.
Então, se você está saudável, comemore.
Se está buscando saúde, continue.
E, acima de tudo: não tenha vergonha disso.
(*) Dr. Lucas Bichara | Cardiologista pela USP | CRM 180164 – RQE 56184
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