O dia mais triste de minha vida, até hoje, é, sem dúvida, o dia em que enterrei meu pai. Foi uma dor imensurável, que arrasou o meu coração, pois não tinha perdido apenas um pai, mas um amigo de todas as horas, um conselheiro amoroso, que estava sempre por perto, por mais longe que eu pensasse estar. 4t3k2e
Naquele dia, antes de irmos para o local onde ele seria enterrado, aconteceu uma missa de corpo presente. Todos que estavam ali, no velório, puderam ouvir com clareza as primeiras palavras do celebrante, que assim, com uma pergunta, iniciou:
— “Alguma das senhoras e senhores está vendo gavetas ao redor do caixão?”
O silêncio foi ensurdecedor por instantes, com apenas as cabeças dos presentes balançando em sinal de negação. A resposta do clérigo foi simples: não existem gavetas e nunca existirão, pois deste mundo nada levamos.
E assim começou a sua celebração, não de morte, como muitos ali pensavam, mas de vida. Meu pai tinha deixado este mundo para entrar na vida eterna, junto ao Pai Maior, que é Deus! Tinha cumprido, e muito bem, sua missão aqui nesta terra.
A frase-título de nosso singelo colóquio eu já tinha ouvido de meu próprio pai, anos antes daquele fatídico dia, ainda criança, quando ele nos ensinava que as coisas materiais nos serviam como um “empréstimo” para aqui vivermos, e que as deixaríamos quando partíssemos para “outra” vida. Nunca me esqueci daquelas palavras, que ele sempre repetia, como se nos preparasse para a partida, querendo que não nos apegássemos às coisas materiais, mas sim às espirituais, valorizando mais as amizades.
Depois, ao longo dos anos, vim a conhecer a Bíblia Sagrada e a ler sobre o assunto, inclusive encontrando alguns apontamentos na filosofia.
A frase “Da vida nada se leva” é, de fato, uma expressão popular que, na visão da filosofia, pode ser interpretada de várias maneiras, mas geralmente tem a ver com a natureza transitória da existência humana, e a importância da experiência, dos conhecimentos e valores acumulados durante nossa vida aqui na terra.
O célebre escritor Antoine de Saint-Exupéry, em sua belíssima obra O Pequeno Príncipe, disse:
— “O que se leva da vida é a vida que se leva.”
Muitos filosofaram dizendo que se leva desta vida bons momentos de felicidade. Outros disseram que o que se leva desta vida é a natureza.
Há um filme muito bom com o título Do Mundo Nada se Leva, de 1938, tendo como atores principais James Stewart e Jean Arthur, que nos leva a refletir sobre a transitoriedade da vida e os valores que realmente valem a pena. Fica a dica!
Depois de muitos anos, penso que nada se leva. Mas, fora os bens materiais, o que pode ficar é a saudade, que não dura muito, pois, na minha humilde visão, estamos neste mundo apenas de agem — e que é muito rápida — para nossa evolução espiritual. Este não é o nosso mundo!
“Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu tornará, indo-se como veio; e nada tomará do seu trabalho, que possa levar na sua mão.”
Eclesiastes 5:15
“Deste aos meus dias o comprimento de um palmo; a duração da minha vida é nada diante de ti. De fato, o homem não a de um sopro.”
Salmos 39:5
“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam;
Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.
Porque onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.”
Mateus 6:19-21
(*) Advogado militante – Coronel da Reserva da Polícia Militar. Curso de gestão estratégia de segurança pública pela Academia de Polícia Militar e Fundação João Pinheiro
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