por TAYGUARA RIBEIRO (FOLHAPRESS) 4l5z48
O desenvolvimento de transtornos de ansiedade é um dos grandes problemas na área da saúde, na atualidade, e o trabalho tem grande participação nisso. O excesso de horas trabalhadas, cobranças abusivas e a tecnologia (que deixa as pessoas conectadas o tempo todo) são alguns dos exemplos de situações que podem desencadear a ansiedade.
“O que a gente tem observado é que as pessoas trabalham muito mais do que o horário previsto. Mensagens de WhatsApp ou email sobrecarregam. Ela está trabalhando [a mais] e ela responde essas mensagens fora do trabalho também. Existe também uma exigência permanente de qualificação. O famoso slogan ‘fazer mais com menos’ parece estar colado na testa das pessoas, o tempo todo”, avalia Ana Carolina Lemos Pereira, doutora em Saúde Coletiva pela Unicamp.
Professora de psicologia da PUC-Campinas, ela explica que é importante construir uma outra forma de se relacionar com o trabalho. “A gente a um terço da nossa vida trabalhando. É bem difícil dizer que o trabalho não está relacionado com este processo de adoecimento. O trabalho é central e deve ser considerado na avaliação do sofrimento mental das pessoas”, diz.
“As pessoas associam a ansiedade sempre à fraqueza, à falta de Deus, a não dar conta, e é horrível isso porque é um processo de adoecimento como qualquer outro”, conta a especialista.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas do mundo, com cerca de 18 milhões.
Ana Carolina explica que, além do trabalho, redes sociais e as relações pessoais também podem ser outros gatilhos. “O sujeito moderno se cobra muito. Tem que atender muitas expectativas. Não pode ser frágil, tem que estar o tempo todo rindo na foto, no Facebook. A ansiedade se expressa individualmente nas pessoas, mas muitas vezes, é sintoma de questões sociais.”
Para ela, não existe uma resposta pronta para os distúrbios da ansiedade. “A gente precisa encarar o sofrimento mental como uma coisa complexa. Não dar respostas prontas, porque corremos o risco de falar coisas que não são reais e contribuir para a estigmatização das pessoas”, conta.
Preconceito atrapalha busca por tratamento
O preconceito em relação à doença, também, é um dos fatores que podem desencadear ou agravar a ansiedade. Isso por que as pessoas demoram para itir o problema e para procurar ajuda. Além disso, não entender o que está acontecendo cria um ambiente propício para o transtorno.
“Eu acho que as pessoas têm preconceito, não só em relação à ansiedade, mas em relação à doença mental. Todos nós temos momentos de tristeza e angústia. Em algum momento, a gente vai se confrontar com o sofrimento mental, e a negativa disso é a negativa da vida real. Se exige muito que as pessoas estejam o tempo todo antenadas, sejam polivalentes, e se você ite estar ansioso, é como se você dissesse que não está dando conta, no senso comum. E falar do sofrimento mental causa desconforto”, explica Ana Carolina.
“Os melhores tratamentos são combinados [terapia e medicamentos]”, diz Henrique Bottura, psiquiatra colaborador do ambulatório de impulsividade do Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele lembra que, em alguns casos, a ansiedade pode evoluir e apresentar complicações. “Depressão e ansiedade se falam muito. Uma pode evoluir para a outra”, diz.
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O que é?
A ansiedade estimula as ações do dia a dia. Em excesso, faz exatamente o contrário, impedindo reações.
Quando vira doença?
Existem diversos transtornos da ansiedade. Eles têm sintomas muito mais intensos do que aquela ansiedade normal do cotidiano.
Principais transtornos:
Fobia específica
Medo desproporcional a objetos e/ou situações como sangue, injeção ou voar de avião, por exemplo.
Transtorno de ansiedade social:
Medo desproporcional em relação a situações sociais (encontro com pessoas que não são familiares).
Agorafobia
Medo desproporcional em situações de uso de transporte público, espaços abertos ou lugares fechados.
Transtorno de ansiedade generalizada:
Medo desproporcional em diversos âmbitos da vida, como trabalho ou escola.
Transtorno de pânico:
Algumas pessoas têm ataques de pânico recorrentes. O transtorno de pânico é o medo de que esses ataques aconteçam, o que faz com que a pessoa acabe evitando situações ou mudando seu comportamento.
Sintomas
Emocionais:
– Sensação contínua de que um desastre vai acontecer;
– Preocupações exageradas com saúde, dinheiro, família ou trabalho;
– Medo extremo de algum objeto ou situação em particular;
– Medo exagerado de ser humilhado publicamente;
– Falta de controle sobre os pensamentos;
– Preocupação excessiva;
– Pensamentos acelerados;
– Dificuldade de relaxar;
– Irritabilidade;
– Dificuldade de concentração.
Físicos:
– Suor excessivo;
Dificuldade de respirar;
– Tonturas;
– Aceleração dos batimentos cardíacos;
Tremores;
– Enrijecimento muscular.
Tratamento
– Medicamentos;
– Psicoterapia;
– Combinação dos dois tratamentos.
Fontes: Ministério da Saúde e Universidade Federal do Rio Grande do Sul